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15/02/2008

Passarinho adapta canto à floresta para passar mensagens diferentes

O pequeno pula-pula-assoviador (Foto: Divulgação/USP)


Não basta talento para um bom músico: é preciso saber usar muito bem as características do instrumento que tem à disposição e a acústica do local onde se apresenta. E o mesmo é verdade para um pequeno pássaro que vive na Mata Atlântica, segundo pesquisadores brasileiros e franceses, o pula-pula-assoviador (Basileuterus leucoblepharus).

Um típico exemplar de “baixinho invocado”, o inquieto passarinho é monogâmico e não hesita em partir pra cima de qualquer um que tenta invadir seu território. Tanta possessividade, no entanto, esbarra na vegetação fechada da mata, que impede o contato visual com possíveis competidores (e também com uma fêmea promissora). Resta ao pula-pula usar o canto e o ouvido para monitorar como anda a vida na vizinhança.

Para fazer isso, o pássaro usa importantes artifícios. O primeiro é a acústica da floresta. Vivendo há séculos na região, o pula-pula assoviador aprendeu a se adaptar ao ambiente disponível para ter os melhores resultados na hora de transmitir sua mensagem. O segundo é uma série de “códigos” que indicam desde a espécie de quem está enviando o canto até a distância e as intenções do assoviador.

Liderados pelo professor da Universidade de Campinas (Unicamp) Jacques Villiard, os pesquisadores partiram para a Reserva Estadual de Morro Grande, no interior de São Paulo, para estudar o comportamento do bichinho. O objetivo era identificar qual o impacto da seleção natural nas canções da espécie.

A equipe descobriu que longe de ser apenas uma musiquinha bonitinha, o canto do pula-pula traz uma série de mensagens complexas. As duas principais são divididas em “públicas” e “particulares”.

A primeira parte da música, que é feita perfeitamente para não ir muito longe na floresta, é destinada apenas aos vizinhos próximos. O objetivo é descobrir quem está por ali, se são todos da mesma espécie, se há algum invasor se metendo onde não deve -– e também se há fêmeas dispostas por perto. A segunda metade da música, que se propaga por distâncias mais longínquas, serve para informar todo mundo que ele está por ali e que aquela área tem dono.

Segundo um dos pesquisadores envolvidos no trabalho, o biólogo Danilo Boscolo, da Universidade de São Paulo (USP), o comportamento do pássaro reflete a teoria da evolução, com os animais se adaptando às condições em que vivem. “O canto está perfeitamente ajustado para as características acústicas da floresta. Qualquer variação e a mensagem se perderia”, explicou ele ao G1.

A comunicação entre os indivíduos é essencial para a espécie, diz Boscolo. “Um canto feito do jeito errado não é reconhecido. O animal não reage”, afirma. No estudo publicado na revista especializada “PloS One”, o grupo de cientistas lembra também que a Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados do mundo e que protegê-la é essencial não apenas para a sobrevivência de espécies como o pula-pula-assoviador, mas também para a compreensão fenômenos biológicos como esse.

do G1

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