É tradição. Na família Carvalho, há mais de meio século, eles sempre mantêm em casa um cão da raça terrier brasileiro, mais conhecida como fox paulistinha. No clã, a paixão pelo animal é herança passada de geração a geração, como sinônimo de alegria e de vida longa, já que a raça vive até 16 anos.
A cada mudança de endereço, a criadora Miriam de Paula Carvalho, 56, repete o lema familiar: "Casa nova, paulistinha novo". É no canil da família que vive Safira, 3, premiada como a melhor da raça em 2008, pelo Kenel Clube São Paulo.
Safira é a mais perfeita tradução de uma mistura que deu certo. A raça é fruto do cruzamento entre diferentes tipos de terrier, como manchester, jack russel e fox pelo liso inglês. Os ancestrais da raça brasileira teriam chegado durante a colonização europeia.
"A mistura dos terriers que viviam nas fazendas iniciou o desenvolvimento do terrier brasileiro", diz a presidente do Clube do Fox Paulistinha, Marina Vicari Lerario.
Talvez quase tão antigo quanto a cidade que completa hoje 455 anos, o fox paulistinha ganhou o coração dos brasileiros. "Geralmente, quem vem à procura de terrier já conviveu com um, quase sempre na infância, e se lembra dos bons momentos", conta a criadora Miriam.
Talentoso caçador e exterminador de ratos, ganhou a "cara" paulistana no início do século 20, graças à miscigenação racial promovida por barões do café e comerciantes, que utilizavam o ruidoso cãozinho na defesa de seus depósitos e armazéns.
Para os criadores paulistanos mais apaixonados, o cão tricolor é símbolo da cidade. São Paulo foi fundamental no desenvolvimento da raça e organizou o reconhecimento internacional com a criação do Clube do Fox Paulistinha, na década de 80.
Em 1964, a Federação Cinológica do Brasil divulgou o padrão do terrier brasileiro, com o nome oficial. "Foi uma maneira de criar uma identidade nacional para o cão que já era popular em todo o país", diz Marina, explicando o fato de a raça ter perdido o "status" regional. Mais de 30 anos depois, em 1995, finalmente foi reconhecida internacionalmente como uma nova raça. Entrou para um seleto clube: antes do terrier, apenas o fila brasileiro era genuinamente nacional.
Pequeno, porém ousado, forte e, acima de tudo, ágil, o velho fox paulistinha é um cão do tipo pau-para-toda-obra e conquistou fãs no além-mar. O animal já foi exportado para os EUA, a Áustria, a África do Sul, o Japão, a Finlândia e Portugal.
Raio-X da raça
Nome: terrier brasileiro (fox paulistinha)
Altura: 35 cm a 40 cm (machos); 33 cm a 38 cm (fêmeas)
Cores: tricolor com branco e caramelo e/ou preto, marrom e azul
Doenças mais comuns: má-formação da arcada dentária
Expectativa de vida: 16 a 18 anos
Pelagem: curta, lisa, fina, bem assentada à pele
Personalidade: brincalhão e gentil; desconfiado com estranhos
Peso máximo: 10 kg
FLÁVIA GIANINI
da Revista da Folha
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