Google

Seguidores

12/11/2007

Em nome dos girinos, sapa 'pula a cerca' com macho de outra espécie

A cara de espanto não é pra menos: afinal, o macho desta foto está sendo passado para trás por membros de outra espécie (Foto: "Science"/Divulgação)

"As crianças em primeiro lugar" parece ser o mote das fêmeas de uma espécie de sapo comum nos Estados Unidos. Para que seus girinos tenham chances melhores de sobreviver e chegar à idade adulta, elas não hesitam em quebrar uma das leis não-escritas da biologia: passam a se acasalar com machos de uma espécie que não é a sua.

O caso das sapas de mente aberta foi documentado pela pesquisadora Karin Pfennig, da Universidade da Carolina do Norte, na última edição da revista americana "Science". Longe de ser uma simples curiosidade, ele pode ajudar a explicar como as espécies separadas se estabelecem ao longo da evolução, e por que diabos híbridos de dois tipos diferentes de bicho continuam aparecendo mesmo depois dessa separação (ou "especiação", como é conhecida tecnicamente).

Explica-se: no mundo animal, fora os casos de híbridos induzidos por humanos, como as mulas (resultado do cruzamento de um jumento com uma égua), a mistura de espécies diferentes é rara. Ela normalmente ocorre apenas em áreas específicas de contato entre as duas espécies, chamadas de zonas de hibridação.

Esforço jogado fora?

E daí vem nosso problema número 1. Ocorre que a mistura de espécies tende a ser nociva para o futuro dos pais e da prole, porque em geral os híbridos são menos férteis que os filhotes "puros", ou até totalmente estéreis. É o que ocorre com o par de espécies de sapos norte-americanos, o Spea bombifrons e o Spea multiplicata. Quando os bichos cruzam, os machos resultantes podem ser estéreis, e as fêmeas híbridas produzem menos ovos do que as puras. Mesmo assim, a porcentagem de hibridação pode chegar a até 40% de uma população mista das espécies.

Há, no entanto, um porém. Ambos os bichos põem seus ovos em poças e lagoas temporárias. Os girinos de S. multiplicata se desenvolvem mais rápido que os de S. bombifrons, os quais também são mais lerdos para alcançar a maturidade do que os híbridos. Ora, quando a chuva fica abaixo da média, seria vantajoso para as fêmeas da segunda espécie botar ovos híbridos -- eles teriam mais chance de ficar adultos antes de ser ressecados.

Karin Pfennig se pôs a fazer o experimento. Em laboratório, ela colocou fêmeas de S. bombifrons em ambientes que simulavam grandes poças d'água e poças d'água pequenas. Depois, pôs para tocar gravações com o canto dos machos das duas espécies. E, conforme previsto, as fêmeas colocadas em poças rasas tendiam a preferir os machos da outra espécie, a S. multiplicata. Ou seja: a hibridação continua a acontecer porque, do ponto de vista da sobrevivência, ela continua a valer a pena em condições mais secas.
do G1.globo

Nenhum comentário: