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03/06/2009

Cães e outros animais podem realmente sentir remorso, sugerem estudos

Se você tem um cachorro, especialmente um que tenha molhado seu tapete favorito, você sabe que um animal é capaz de se desculpar. Ele consegue choramingar, se arrastar, enfiar o rabo entre as pernas e parecer absolutamente mortificado – “Não sei o que deu em mim”. Mas será que ele está realmente pesaroso? Poderia um animal sentir dores verdadeiras de arrependimento? Cientistas já desdenharam dessa ideia como um tolo antropomorfismo. Eu costumava me identificar com os céticos que descartavam esse tipo de pesar como variações das lágrimas de crocodilo.

Os animais pareciam ocupados demais pensando na próxima refeição para afundarem-se em auto-recriminação. Se animais velhos tivessem uma canção, ela seria “My Way”. Entretanto, enquanto aparecem, cada vez mais, novos relatos – coiotes aparvalhados, macacos arrependidos, tigres que cobrem seus olhos em remorso, chimpanzés que repensam suas escolhas –, mais eu penso se os animais entregam-se à sensação de culpa.

Seu cachorro pode não compartilhar da complexa melancolia de Hamlet, mas pode ter algo em comum com Woody Allen. Os dados mais recentes vêm de imagens neurais de macacos tentando ganhar um prêmio de suco ao adivinhar onde ele estava escondido. Quando os macacos faziam a escolha errada e lhes era mostrado o local correto do prêmio, os neurônios em seus cérebros registravam claramente o que poderia ter acontecido, de acordo com neurobiólogos da Universidade Duke, que recentemente relataram o experimento na revista "Science".

Primeira evidência

“Essa é a primeira evidência de que macacos, assim como pessoas, têm pensamentos do tipo ‘teria, poderia’”, disse Ben Hayden, um dos pesquisadores. Outro dos autores, Michael Platt, apontou que os macacos reagiam a suas perdas trocando suas escolhas subsequentes, exatamente como humanos reagem a uma oportunidade perdida através da troca de estratégia. “Posso imaginar muito bem que o arrependimento seria altamente vantajoso evolutivamente, contanto que não haja obsessão a respeito dele, como na depressão”, disse Platt. “Um macaco sem arrependimento poderia agir como um psicopata ou um Dom Quixote símio”.

Em experiências anteriores, tanto chimpanzés quanto macacos, que trocaram chaveiros por pepinos, reagiram negativamente assim que viram que outros animais estavam ganhando um prêmio mais gostoso – uvas – pelo mesmo preço. Eles fizeram sons irritados e algumas vezes atiraram os pepinos ou os chaveiros, relatou Sarah Crosnan, psicóloga da Universidade Estadual da Georgia. “Acho que animais realmente sentem arrependimento, quando definido como o reconhecimento de uma oportunidade perdida”, disse Brosnan. “Na natureza selvagem, essas habilidades podem ajudá-los a reconhecer quando eles devem sair para caçar em diferentes áreas ou buscar um parceiro de ajuda capaz de dividir os prêmios de forma mais justa”.

Ninguém sabe exatamente, é claro, como esse sentimento de remorso afeta um animal no lado emocional. Quando vemos um cachorro se arrastando e nos olhando por baixo, gostamos de deduzir que ele esteja sofrendo como nós mesmos após uma gafe. Todavia, talvez ele esteja apenas nos enviando um útil sinal: eu errei.

Entre ter e saber

“É possível que esse tipo de sinal social em animais possa ter evoluído sem a experiência consciente do arrependimento”, disse Sam Gosling, psicólogo da Universidade do Texas, em Austin. “Mas parece mais plausível que haja algum tipo de experiência consciente, mesmo que não seja do mesmo tipo que eu e você sentimos”. Marc Bekoff, um ecólogo comportamental da Universidade do Colorado, diz estar convencido de que animais sentem dores emocionais por seus erros e oportunidades perdidas.

“Em “Wild Justice”, seu novo livro, escrito numa parceria com a filósofa Jessica Pierce, Bekoff relata milhares de horas de observação de coiotes na vida selvagem, além de cachorros domesticados em liberdade. Quando um coiote recuava após ser mordido forte demais durante uma brincadeira, o coiote ofensor imediatamente se curvava para reconhecer o erro, disse Bekoff.

Se um coiote era evitado por brincar injustamente, ele se arrastava pela área com as orelhas levemente para trás, cabeça baixa e rabo entre as pernas, alternadamente se aproximando e se retirando do grupo de animais. Bekoff disse que os coiotes arrependidos o faziam lembrar-se dos animais não-populares em torno do perímetro de parques de cachorros. “Esses animais não são tão emocionalmente sofisticados quanto humanos, mas precisam saber o que é certo e o que é errado – pois essa é a única maneira pela qual grupos sociais podem funcionar”, disse. “O arrependimento é essencial, especialmente no mundo selvagem.

Humanos são muito misericordiosos com seus animais de estimação, mas se um coiote selvagem fica com uma reputação de trapaceiro, ele é ignorado ou banido, e acaba deixando o grupo”. Bekiff descobriu que, uma vez que o coiote está sozinho, seu risco de morrer jovem aumenta em quatro vezes. Se nossos animais de estimação sabem como somos moles, talvez seu arrependimento seja basicamente uma atuação para nos enganar.

Mesmo desta forma, gosto de pensar que alguma coisa do pesar é real, e que pesquisadores ainda conseguirão compilar uma lista dos 10 Maiores Arrependimentos de Bichos. Eu gostaria de, pelo menos, ver os pesquisadores abordarem algumas das grandes questões não-respondidas: Quando você está brincando de “vá buscar” com um cachorro, quanto arrependimento ele sente quando lhe traz a bola de volta? Seria a mesma quantidade de quando ele termina o jogo em posse dela? Animais vândalos sentem dúvidas morais? Depois de ver tapetes, malas e móveis destruídos por meus bichos, não acho que a evolução tenha favorecido os animais com qualquer senso de direito de propriedade.

Todavia, me sinto encorajado pelas histórias de vândalos pesarosos no livro de Eugene Linden sobre comportamentos animais, "The Parrot's Lament”. Ele fala de um jovem tigre que, após destruir todas as árvores recém-plantadas num zoológico na Califórnia, cobriu seus olhos com as patas quando o funcionário chegou. Há também os chimpanzés fêmeas do zoo de Tulsa, que se aproveitaram de um projeto de renovação para roubar os suprimentos dos pintores, vestir luvas e pintar seus bebês de branco sólido.

Quando confrontados pelos funcionários furiosos, as mães correram para longe, retornando mais tarde com presentes de paz e bebês já sem a tinta. Quão esdrúxula é Síndrome de King Kong? Gorilas machos e fêmeas se tornaram tão apreciadores dos funcionários que cuidam deles, além de demonstrarem abertura sexual – um deles até mesmo tentou arrastar uma funcionária pelo cabelo. Após a recusa inevitável, será que eles temem haver arruinado uma linda amizade?

Será que gatos de estimação se arrependem de alguma coisa?


John Tierney Do 'New York Times'
G1 globo.com

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