SÃO PAULO - Quatro casos recentes de maus-tratos a animais chocaram e
mobilizaram entidades protetoras de animais. Um vídeo de um cão da raça
yorkshire espancado até a morte na frente de uma criança em Goiânia, o
cão arrastado pelas ruas da Paraíba com um saco plástico na cabeça, a
foto do vira-lata com o focinho decepado, a cadela da raça boxer que
teve a mandíbula destruída ao ser agredida pelo próprio dono e o
"diário" da luta pela sobrevivência do vira-lata enterrado vivo no
interior de São Paulo estão entre os assuntos mais comentados na
internet.
As pessoas só têm um pedido: Justiça. Em São Paulo, no
início do mês, passou a funcionar um grupo especial de combate a crimes
contra animais no Ministério Público Estadual. Dois promotores foram
designados para integrar o grupo, que funcionará no Fórum Criminal da
Barra Funda: Vania Maria Tuglio e Carlos Henrique Prestes Camargo.
A
criação, justifica o MP, "nasce em razão do elevado número de
ocorrências envolvendo abusos, maus-tratos, ferimento e mutilação de
animais, inclusive em ambietne urbano e doméstico, caracterizando a
prática de delitos, segundo a lei 9.605/98". O grupo vai atuar de forma
integrada com o promotor de Justiça, oficiando em representações
criminais, inquéritos e processos criminais, de acordo com o Ministério
Público. Em Curitiba, vereadores aprovaram os dois projetos de lei, de
autoria da Prefeitura, que estabelecem sanções contra maus-tratos a
animais.
A polícia de Formosa (GO) abriu um inquérito por causa do
vídeo postado no Youtube que mostra o cachorro da raça yorkshire sendo
agredido pela dona, na frente de uma criança, que aparenta ter 3 anos de
idade. Ela bate no animal com um balde e o prende embaixo para sufocar.
Antes, chutou e o arremessou na parede. O animal morreu, segundo a
polícia. A polícia recebeu o vídeo, de maneira anônima.
À TV Globo, o
delegado Carlos Firmino Dantas, do 1º DP de Formosa, disse que a mulher,
que seria uma enfermeira de 22 anos, alegou que o animal dava muito
trabalho. Ela prestou um depoimento informal. Segundo o delegado, houve
crime contra o cachorro e contra a criança. - Queremos provar que há o
constrangimento da criança. Isso é um crime previsto no Estatudo da
Criança e do Adolescente. Ela poderá ser condenada, não só com cesta
básica, mas chegar uma pena de três anos e meio - explica o delegado. O
MP de Goiás informou que acompanha o caso e aguarda do fim do inquérito
policial para tomar providências.
Pelo twitter, a vereadora
Heloísa Helena (PSOL), ex-senadora, defendeu a aprovação de lei contra
maus-tratos dos animais. E faz um apelo à pessoa que fez e divulgou as
imagens: "quem postou o vídeo precisa urgente encaminhar denúncia (pode
ser anônima) ao MP/Vara da Infância pois tem criança envolvida".
O diário do cachorro enterrado vivo
Outra
história que causou comoção e também ganhou destaque nas redes sociais
foi a do vira-latas Titã, enterrado vivo pelo próprio dono na cidade de
Novo Horizonte, a 399 km da capital. Ele foi resgatado há uma semana por
um integrante da Ong Mão Amiga e por pouco não morreu. Com infecções,
anêmico, com sarna e com um olho ferido, a luta do animal pela
sobrevivência e sua recuperação são noticiadas quase que como num
diário. E a Ong já tem 34 pedidos de adoções, de pessoas que ligam do
Brasil e do exterior. Quando fecha a clínica, a veterinária responsável
pelo seu tratamento leva Titã para sua casa.
A repercussão do caso
surpreendeu o representante da Ong, Marco Antonio Rodrigues. - Todos os
dias, recebemos cerca de cinco, seis denúncias de bichos que passam
fome, estão doentes. Mas a história do Titã teve uma repercussão que até
nos assustou - conta Rodrigues.
Para o veterinário e professor do
curso de Psicologia da PUC de São Paulo, Mauro Lantzman, especialista
em comportamento e bem-estar animal, a grande mobilização da sociedade
com casos de maus-tratos tem a ver com os trabalhos de conscientização
de Ongs para reduzir o índice de abandono dos bichos de estimação. - É
algo histórico. Esse movimento tem crescido por força desses movimentos
que procuram conscientizar a população sobre abandono, adoções e os
benefícios de se ter um animal de estimação - avalia Lantzman. - Houve
um tempo em que o foco era noticiar casos de cachorros mordendo crianças
e adultos - completa ele.
Lino, o vira-latas arrastado
por cerca de 700m pelo asfalto em uma rua na Paraíba, com um saco
plástico na cabeça, ganhou uma dona e um lar. A agressão foi flagrada
por um cinegrafista amador, no mês passado. O homem disse que levaria o
cão para o centro de zoonoses para ser sacrificado porque estava doente.
Após duas semanas em tratamento para cuidar dos ferimentos, ele teve um
final feliz.
Já o cãozinho que teve o focinho decepado continua
em tratamento contra uma infecção e anemia em uma clínica na Zona Leste
de São Paulo. Ainda não se sabe em qual circunstância ele foi mutilado.
Como consegue comer e se recupera bem, foi excluída a possibilidade dele
ser sacrificado. Já ganhou até um nome: Chiquinho.
- O homem
sempre teve uma relação evidente com os animais. Mas antes era uma
relação de trabalho e consumo. Muito recentemente, ele passou a ser
visto como parceiro, alguém da família, que está dentro de casa. Passou a
criar um vínculo mais emocional. À medida que as condições econômicas
melhoraram, o número de pets nos lares aumentaram. Por esta razão, as
pessoas se sentem mais chocadas quando um animal sofre maus-tratos -
explica Sandro Caramaschi, professor de Faculdade de Psicologia da Unesp
de Bauru.
fonte>OGlobo
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